sábado, 22 de maio de 2010

De botequices e botequeiros

Quem acessa o meu site vai encontrar algumas definições de estilos de boteco pouco usuais para os entendidos no gênero.


“Boteco da Central”, “Boteco Zona Sul”, “Boteco de Celebridades”, “Boteco de Executivos”, como os definir?

Vamos lá!



BOTECO DA CENTRAL



A região da Central do Brasil, por ser um ponto de confluência da população mais pobre e da classe média baixa é também um ponto de concentração de um tipo de estabelecimento e comida encontrado em outros pontos do Rio de forma bem esparsa. Talvez apenas a região de Madureira e Copacabana tenham tamanho número de bares assim.

Os lugares em geral são pequenos, onde cabem apenas um balcão e poucas mesas quando as tem. Normalmente o freqüentador fica em pé, ou sentado em balconetes junto ao balcão.

A decoração (se é que se pode chamar de decoração o que existe neste estilo de ambiente) é composta por paredes azulejadas, um quadro com imagem de santo, um expositor com as iguarias que irão acompanhar a aguardente ou cerveja; e quando com mesas, toalhas de plástico “linholene” com uma garrafa de pimenta e farinha em cima, e um porta-guardanapo do tipo estojo.

A comida? Estes são lugares onde se encontra a mais representativa comida de bar carioca, os chamados “pratos feitos” ou “pfs”. A petiscagem é realizada com os mesmos ingredientes dos pratos do almoço: pedaços de frango frito, peixe a milanesa, miúdos de porco do feijão. Em outros, porém, o que se tem é a chamada comida rua, lanches em geral

Não é difícil encontrar por lá música de máquina eletrônica e as indefectíveis máquinas de karaoke (ou videoke).



BOTECO ZONA SUL



Para alguns os botequins, tipo os da Central, ou os “bunda de fora” de Copacabana são os "pé sujo", e os bares da moda da zona sul (ou da Lapa) os "pé limpo" ou "botecos de grife".

Não acho que seja bem assim.

Os chamados botecos da moda nada mais são do que restaurantes de estilo jovem que deram uma voltinha por São Paulo para poder se chamar boteco.

Da decoração dos antigos botequins, o ambiente tenta trazer à lembrança as paredes azulejadas, com todo o mobiliário em madeira, e sem o uso de toalhas.

Nas paredes fotos antigas e retratos, uma tradição muito encontrada nos antigos restaurantes portugueses, dos quais a região de São Cristovão ainda guarda alguns.

A iluminação rarefeita é uma outra característica deste tipo de lugar. Pouca luz chama a azaração jovem, e trás a intimidade que só o alcool dá.

No cardápio petiscos saídos do repertório da chamada comida popular brasileira, misturados a toques de criatividade da gastronomia de bom gosto, como ervas, queijos e azeites.

Quando servindo refeições se aproximam mais de uma pizzaria, restaurante ou churrascaria, do que de um botequim.

Música ao vivo ou eletrônica centrada no repertório da chamada MPB, tendo a antiguidade dos chorinhos e sambas é uma tendência deste tipo de boteco.



BOTECO DE CELEBRIDADES



Nestes o espaço para bebericagem restringe-se cada vez mais ao lounge. Por serem muitos, amplos espaços dividem-se em churrascarias, restaurantes e pizzarias num mesmo endereço.

Possuem discotecas e ambientes de dança e música ao vivo. Todo o material de uso é chic e de extremo bom gosto.

E quando não são grandes locais são bistrôs, o que no fundo dá a mesma coisa em se tratando de decoração clean.

Não posso falar muito deste tipo de boteco (assim eles se intitulam), pois pouco os conheço, mas nos que fui a comida pouco lembra a comida de um botequim.

Dá para notar a mão de um chef transformando aquilo que era simples em alguma coisa sofisticada.

Alias esta tendência às pequenas porções para petiscagem tem levado alguns a se apropriar do conceito botequim mais como forma de se tornar popular.

A decoração de um “boteco de celebridades” usa muito vidro, transparência, claridade, ficando o escurinho para o local de dança, a não ser quando uma varanda permite economizar e aproveitar a luz da rua ou do luar.



BOTECO DE EXECUTIVOS



Também um ambiente bistrô está quase em extinção, uma vez que a comida fast-food tem tirado da turma do paletó-e-gravata o prazer do uisquinho ao por do sol. Ainda mais agora que a bolsa de valores se mudou para São Paulo.

O que me vem à memória são os restaurantes de comida a quiilo freqüentados pelos endinheirados funcionários das estatais, multinacionais e diretorias dos bancos do centro da cidade, e que ao entardecer insistem em não fechar.

Não vou me deter muito naquilo que penso da definição para o lugar, pois a que tenho é ultrapassada, posto que agora o meu “boteco de executivo” do passado hoje são botecos de celebridade que fecham cedo.



Sei que vou tomar paulada por tudo que é lado, mas como botequeiro que não se apega as tradições e aos regionalismos tinha que me explicar.

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